Incêndios florestais no Brasil em 2024

Incêndios florestais no Brasil em 2024

Imagem de satélite dos focos de incêndio no dia 25 de agosto de 2024

País
 Brasil
Local
Amazônia, Cerrado e Pantanal
Localização administrativa
Coordenadas
17° 24′ S, 57° 30′ OVisualizar e editar dados no Wikidata
Estatística
Data
Data de início
Área queimada
mais de 760 mil hectares (1,8 milhão de acres).
Fonte da Ignição
seca
Vitímas mortais
2
Mapa

editar - editar código-fonte - editar WikidataDocumentação da predefinição

Em 2024, milhares de incêndios florestais graves destruíram 32 mil hectares de áreas úmidas tropicais no Pantanal brasileiro, no Mato Grosso do Sul, e em várias outras áreas no Cerrado e na Amazônia. Segundo dados de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o número de incêndios desde o início de 2024 até 10 de junho apresentou um aumento de 935% em relação ao mesmo período de 2023, com 1 315 incêndios registrados, contra 127 em 2023.[1][2]

A quantidade de focos de incêndios registrada é 81% maior do que o acumulado no ano de 2023. Os incêndios ganharam as manchetes de jornais no Brasil e no mundo, em 24 de agosto de 2024, com uma série coordenada de incêndios criminosos.

Origem

Cientistas climáticos observaram que a temporada de incêndios florestais de 2024 no Brasil começou mais cedo do que as temporadas típicas, que começam por volta de julho, e também foi mais intensa este ano devido à diminuição das chuvas em certas regiões, levando a uma seca prolongada.[3]

O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva prometeu acabar com o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030 para reduzir o impacto do aquecimento global.[2]

Incêndios florestais

Amazônia

Em 1.º de julho, dados coletados por satélite indicaram que pelo menos 13 489 incêndios florestais ocorreram na Amazônia desde o início do ano, a maior quantidade de incêndios florestais no primeiro semestre do ano em vinte anos, e um aumento de 61% em relação a 2023. O porta-voz do Greenpeace brasileiro, Rômulo Batista, afirmou que o aquecimento global e a diminuição das chuvas criaram ambientes mais secos, o que fez com que a vegetação ficasse mais seca e, portanto, mais suscetível à propagação de incêndios.[2]

Em 27 de agosto, o governador do Pará, Helder Barbalho, decretou estado de emergência e proibiu o uso de fogo em todo o território paraense devido às queimadas que atingem cidades de todo o país, incluindo o Pará. O decreto prevê a proibição da utilização do fogo, inclusive para limpeza de manejo de áreas, em todo o Pará, pelo período de 180 dias, podendo ser prorrogado pelo mesmo período.[4]

Pantanal

Nas duas primeiras semanas de junho, 2 639 incêndios queimaram 32 mil hectares do Pantanal, seis vezes o maior número de incêndios na região em junho, em comparação com qualquer ano anterior.[5] O número aumentou para mais de 760 mil hectares (1,8 milhões de acres) em 9 de julho, queimando mais de 4% dos 16,9 milhões de hectares (42 milhões de acres) de áreas úmidas. Grandes áreas de terra com arbustos densos e vida selvagem foram queimadas e transformadas em um "tapete de cinzas brancas", com pedaços de entulho subindo e descendo ao redor das áreas afetadas. A intensidade e o alcance dos incêndios florestais foram agravados por ventos fortes que sopravam a até 40 km por hora.[6]

Os incêndios de tamanha gravidade ameaçaram a maioria da fauna natural, incluindo tamanduás, onças, antas, jacarés e sucuris. Um total de 3 538 incêndios florestais foram registrados na região até 1.º de julho, um aumento de 40% em relação a 2020, o ano com mais incêndios florestais na região. Os esforços para extinguir os incêndios foram complicados pelos ventos fortes e pelo relevo das zonas úmidas, que dificultavam o acesso e a circulação.[1][2] A fumaça dos incêndios florestais fez com que vários hospitais de Corumbá ficassem lotados de vítimas de inalação de fumaça e sintomas respiratórios, afetando principalmente crianças (<5 anos) e idosos acima de 65 anos. Os trabalhadores de resgate de animais relataram que centenas de animais foram mortos devido à inalação de fumaça e queimaduras, incluindo sapos, cobras, macacos e onças.[6]

Em abril, as autoridades estaduais do Mato Grosso do Sul declararam "estado de emergência ambiental" devido aos baixos níveis de precipitação que interromperam as habituais inundações sazonais, agravando as condições para potenciais incêndios florestais em muitas partes da região.[1] O governo do estado de Mato Grosso do Sul emitiu uma declaração de emergência em 24 de junho. O governo federal aumentou o tamanho de sua força-tarefa de combate a incêndios florestais, enquanto a Força Aérea Brasileira lançou 48 mil litros de água em 6 e 7 de julho. O bombeiro Cabo Sena relatou que os incêndios florestais geralmente reapareciam 24 horas após serem extintos. Folhetos sobre prevenção de incêndios foram distribuídos à população local na região dos incêndios, com vários especialistas e cidadãos solicitando que o governo brasileiro invista mais na educação sobre prevenção de incêndios.[6] Em agosto de 2024, o governo boliviano pediu apoio ao Brasil no combate aos incêndios florestais. No Pantanal, área de fronteira entre os países, a Serra do Amolar foi recentemente atingida por um incêndio. O pedido de ajuda foi encaminhado à Agência Brasileira de Cooperação (ABC) e está sendo avaliado pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil.[7]

Em 31 de agosto, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) multou duas empresas em mais de 100 milhões de reais por um incêndio de grandes proporções no Pantanal causado por trabalhadores de manutenção de uma linha férrea em Corumbá, no estado do Mato Grosso do Sul. O incêndio, que começou em 16 de agosto e foi controlado em 23 de agosto, destruiu mais de 17 mil hectares de vegetação e atingiu 12 propriedades rurais na região de Porto Esperança. A empresa responsável pela linha férrea recebeu multas de 50 milhões de reais por dano ambiental e 7,5 milhões de reais por descumprimento de licenciamento ambiental, enquanto a empresa terceirizada foi multada em 50 milhões de reais.[8]

Em 7 de setembro, o Ibama autorizou o envio de brigadistas para Bolívia para combate a incêndios florestais com risco iminente ao Pantanal.[9]

Cerrado

O Cerrado teve 13 229 incêndios florestais ocorridos no primeiro semestre do ano. Os incêndios generalizados fizeram com que o céu se enchesse de nuvens de fumaça e adquirisse uma cor vermelha, segundo os moradores.[2]

São Paulo

Esta seção é um excerto de Incêndios no estado de São Paulo em 2024.[editar]
Os incêndios no estado de São Paulo em 2024 atingiram o território paulista, no Brasil, na segunda quinzena de agosto de 2024. O aumento súbito nas ocorrências teve início em 22 de agosto, afetando vários pontos do interior paulista. A influência de uma onda de calor, o longo período sem chuvas, em função da estação seca, e o aumento dos ventos, em consequência da aproximação de uma frente fria, criaram condições para a propagação dos focos de fogo.[10] No entanto, há registros de incêndios de origem criminosa.[11] As queimadas atingiram pastagens, plantações e áreas de preservação e provocaram mortes e escurecimento do céu devido à fumaça.[12][13]

Rio de Janeiro

Em 13 de setembro, um homem foi preso ao ser flagrando colocando fogo em área de mata em Vassouras, no sul do estado do Rio de Janeiro. Um incêndio atingiu o quilombo mais antigo do Estado do Rio de Janeiro, em Valença.[14]

Em 14 de setembro, o secretário de Meio Ambiente do Estado, Bernardo Rossi, anunciou o fechamento de todos os parques do Rio de Janeiro por causa de incêndios em todo o estado.[14]

Impacto atmosférico

A fumaça dos incêndios de São Paulo se juntou com a das queimadas recordes que atingem a Amazônia e o Pantanal,[15] que já vinha afetando pelo menos dez estados nos dias anteriores,[16] o que contribuiu com a piora da qualidade do ar e deixou o céu com coloração laranja e o sol avermelhado em várias cidades do interior paulista, principalmente entre 23 e 24 de agosto.[17] O fim de tarde de 24 de agosto foi marcado por um brusco escurecimento mais cedo do céu e a noite seguiu com má visibilidade.[18]

Reações

Em 4 de setembro, durante uma sessão da Comissão de Meio Ambiente do Senado, a ministra do Meio Ambiente do governo Lula, Marina Silva, afirmou que dados apontam uma mudança no "perfil" dos incêndios que atingem a Floresta Amazônica. Marina disse que Amazônia perde umidade e área nativa com o avanço da crise climática e pode se tornar vulnerável a incêndios naturais nos próximos anos.[19]

Em 10 de setembro, durante uma audiência de conciliação, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino, chamou as queimadas na Amazônia e Pantanal de "pandemia de incêndios florestais" e determinou a ampliação do efetivo de combate às queimadas nos dois biomas em cinco dias.[20]

Em 12 de setembro, o secretário Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, Mário Sarrubbo, afirmou em entrevista à GloboNews que os autores dos incêndios criminosos recentes, em meio à maior estiagem da história do país, terão de indenizar a população e restaurar os biomas.[21]

Ver também

Referências

  1. a b c Buschschlüter, Vanessa (10 de junho de 2024). «Brazil wildfires: Parts of Pantanal wetlands ablaze amid drought». BBC (em inglês). Consultado em 10 de junho de 2024 
  2. a b c d e Genot, Louis (2 de julho de 2024). «Brazil's Amazon sees worst 6 months of wildfires in 20 years». phys.org (em inglês). Consultado em 9 de julho de 2024 
  3. Paraguassu, Lisandra (10 de junho de 2024). «Fires in Brazilian wetlands surge 980%, extreme drought expected». Reuters (em inglês). Consultado em 10 de junho de 2024 
  4. «Alerta de queimadas: governo proíbe uso de fogo e decreta situação de emergência no Pará». G1. 27 de agosto de 2024. Consultado em 27 de agosto de 2024 
  5. «Brazil's Amazon rainforest sees worst 6 months of wildfires in 20 years, data shows». France 24 (em inglês). 1 de julho de 2024. Consultado em 9 de julho de 2024 
  6. a b c Barber, Harriet (9 de julho de 2024). «Devastation as world's biggest wetland burns: 'those that cannot run don't stand a chance'». The Guardian (em inglês). ISSN 0261-3077. Consultado em 10 de julho de 2024 
  7. Câmara, José (13 de agosto de 2024). «Bolívia pede ajuda ao Brasil para combate a incêndios florestais; Itamaraty avalia pedido». G1. Consultado em 13 de agosto de 2024 
  8. Vladimir Netto (31 de agosto de 2024). «Ibama aplica multas que somam mais de R$ 100 milhões por queimada iniciada em ferrovia no Pantanal». G1. Consultado em 1 de setembro de 2024 
  9. Rafaela Moreira e Lucas Lelis (7 de setembro de 2024). «Ibama autoriza envio de brigadistas para Bolívia para combate a incêndios com risco iminente ao Pantanal». G1. Consultado em 7 de setembro de 2024 
  10. Flávia Santucci e Rodolfo Tiengo (23 de agosto de 2024). «Onda de incêndios deixa cidades de SP encobertas por fumaça e causa mortes». G1. Consultado em 25 de agosto de 2024. Cópia arquivada em 25 de agosto de 2024 
  11. Luiz Vassallo (25 de agosto de 2024). «Tarcísio confirma 2 prisões no interior de SP por incêndios criminosos». Metropóles. Consultado em 25 de agosto de 2024. Cópia arquivada em 25 de agosto de 2024 
  12. Felipe Andrade (24 de agosto de 2024). «Imagens de satélite mostram início de queimadas e avanço da fumaça em SP; veja». CNN Brasil. Consultado em 25 de agosto de 2024. Cópia arquivada em 25 de agosto de 2024 
  13. Bruna Sales (25 de agosto de 2024). «Tarcísio decreta emergência em SP e 46 cidades estão em alerta máximo». Metrópoles. Consultado em 25 de agosto de 2024. Cópia arquivada em 25 de agosto de 2024 
  14. a b Gabriel Barreira (14 de setembro de 2024). «Secretaria de Meio Ambiente anuncia fechamento de parques por causa de incêndios no RJ». G1. Consultado em 14 de setembro de 2024 
  15. Flavia Said (25 de agosto de 2024). «Fumaça avança por outras regiões do país neste domingo». Metrópoles. Consultado em 25 de agosto de 2024. Cópia arquivada em 25 de agosto de 2024 
  16. TV Cultura (22 de agosto de 2024). «Fumaça de incêndios na Amazônia e Pantanal afetam 10 estados do país e alerta para saúde». Consultado em 25 de agosto de 2024. Cópia arquivada em 25 de agosto de 2024 
  17. Josélia Pegorim (24 de agosto de 2024). «Depois do sol vermelho, São Paulo tem chuva com fuligem». Climatempo. Consultado em 25 de agosto de 2024. Cópia arquivada em 25 de agosto de 2024 
  18. Rodolfo Tiengo, Ana Beatriz Fogaça e Carolina Castro (25 de agosto de 2024). «Céu escuro por fumaça, voos cancelados e dezenas de cidades em alerta: incêndios continuam avançando no interior de SP». G1. Consultado em 25 de agosto de 2024. Cópia arquivada em 25 de agosto de 2024 
  19. Kevin Lima e Mateus Rodrigues (4 de setembro de 2024). «Amazônia perde umidade e área nativa e pode se tornar vulnerável a incêndios 'naturais' nos próximos anos, diz Marina Silva». G1. Consultado em 5 de setembro de 2024 
  20. Márcio Falcão (10 de setembro de 2024). «Dino vê 'pandemia de incêndios florestais' e dá 5 dias para ampliação de efetivo contra queimadas». G1. Consultado em 10 de setembro de 2024 
  21. «Autores de incêndios criminosos serão punidos e terão que recuperar biomas, diz Sarrubbo». G1. 12 de setembro de 2024. Consultado em 12 de setembro de 2024 
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