Teorema de Laplace

Em álgebra linear, o teorema de Laplace fornece uma expressão para o determinante de uma matriz quadrada qualquer em termos de determinantes de matrizes de ordem inferior.[1]

Enunciado do teorema

O determinante de uma matriz A M n × n ( K ) {\displaystyle A\in M_{n\times n}(\mathbb {K} )} é igual à soma algébrica dos produtos dos elementos de uma linha (ou coluna) pelos respectivos cofatores (ou complementos algébricos).

O cofator do elemento a i , j {\displaystyle a_{i,j}} de uma matriz é o escalar C i , j {\displaystyle C_{i,j}} definido por [2] C i , j   = ( 1 ) i + j det ( A i j ) , {\displaystyle C_{i,j}\ =(-1)^{i+j}\det(A_{ij})\,,} em que A i j {\displaystyle A_{ij}} representa a matriz que se obtém da matriz original pela eliminação da i-ésima linha e da j-ésima coluna. Tem-se então que det ( A ) = a i , 1 C i , 1 + a i , 2 C i , 2 + . . . + a i , n C i , n {\displaystyle \det(A)=a_{i,1}C_{i,1}+a_{i,2}C_{i,2}+...+a_{i,n}C_{i,n}} ou det ( A ) = a 1 , j C 1 , j + a 2 , j C 2 , j + . . . + a n , j C n , j {\displaystyle \det(A)=a_{1,j}C_{1,j}+a_{2,j}C_{2,j}+...+a_{n,j}C_{n,j}} conforme seja escolhida a i-ésima linha ou a j-ésima coluna.

Aplicação

O teorema de Laplace é normalmente utilizado para o cálculo de determinantes de matrizes de ordem superior ou igual a 4. Ele também se poder aplicar a matrizes de ordem inferior, embora neste caso o cálculo do determinante seja usualmente mais simples, como o uso da regra de Sarrus para matrizes de ordem 3, por exemplo. Na prática, o que se faz é passar do cálculo do determinante de uma matriz de ordem n {\displaystyle n} para o cálculo de n {\displaystyle n} determinantes de matrizes de ordem n 1 {\displaystyle n-1} . O teorema pode ser aplicado sucessivamente até se obterem matrizes de ordem 2 ou 3, cujo determinante é mais simples de calcular.

Pode-se selecionar indiferentemente qualquer linha ou coluna da matriz para aplicar o teorema. No entanto, para simplificar os cálculos, é usual escolher a linha (ou coluna) que apresente mais zeros, visto que o método consiste em multiplicar cada elemento da linha (ou coluna) pelo seu cofator. Assim, no caso de o elemento ser 0, o produto é nulo, não havendo a necessidade de se calcular o cofator.

Exemplo

Considere-se a matriz B = [ 1 2 3 4 5 6 7 8 9 ] . {\displaystyle B={\begin{bmatrix}1&2&3\\4&5&6\\7&8&9\end{bmatrix}}.} O determinante desta matriz pode ser calculado aplicando o teorema de Laplace à 1ª linha: det B = 1 | 5 6 8 9 | 2 | 4 6 7 9 | + 3 | 4 5 7 8 | = 1 ( 3 ) 2 ( 6 ) + 3 ( 3 ) = 0. {\displaystyle \det B=1\,{\begin{vmatrix}5&6\\8&9\end{vmatrix}}-2\,{\begin{vmatrix}4&6\\7&9\end{vmatrix}}+3\,{\begin{vmatrix}4&5\\7&8\end{vmatrix}}=1\,(-3)-2\,(-6)+3\,(-3)=0.} O mesmo resultado pode ser obtido aplicando o teorema à 2ª coluna: det B = 2 | 4 6 7 9 | + 5 | 1 3 7 9 | 8 | 1 3 4 6 | = 2 ( 6 ) + 5 ( 12 ) 8 ( 6 ) = 0. {\displaystyle \det B=-2\,{\begin{vmatrix}4&6\\7&9\end{vmatrix}}+5\,{\begin{vmatrix}1&3\\7&9\end{vmatrix}}-8\,{\begin{vmatrix}1&3\\4&6\end{vmatrix}}=-2\,(-6)+5\,(-12)-8\,(-6)=0.}

Demonstração do Teorema

Vamos usar o princípio da indução finita [3], provando, inicialmente, que o teorema é válido para matrizes de ordem 2 {\displaystyle 2} . Considerando M = [ a 11 a 12 a 21 a 22 ] {\displaystyle {\displaystyle M={\begin{bmatrix}a_{11}&a_{12}\\a_{21}&a_{22}\\\end{bmatrix}}}} e efetuando o desenvolvimento pela 1ª linha:

a 11 C 1 , 1 + a 12 C 1 , 2 = a 11 | a 22 | + a 12 ( 1 ) | a 21 | = a 11 a 22 a 12 a 21 = det M . {\displaystyle a_{11}\,C_{1,1}+a_{12}\,C_{1,2}=a_{11}\,|a_{22}|+a_{12}\,(-1)|a_{21}|=a_{11}\,a_{22}-a_{12}\,a_{21}=\det M.}

De forma análoga, os desenvolvimentos pela 2ª linha, 1ª coluna e 2ª coluna resultam em det M {\displaystyle \det M} , de modo que a propriedade é válida para n = 2 {\displaystyle n=2} .

Na sequência, admitamos que a propriedade seja válida para determinantes de ordem ( n 1 ) {\displaystyle (n-1)} e provemos que ela também é válida para determinantes de ordem n {\displaystyle n} . Seja M {\displaystyle M} uma matriz de ordem n > 2 {\displaystyle n>2} . Os primeiros menores (menores complementares) de M {\displaystyle M} são determinantes de ordem ( n 1 ) {\displaystyle (n-1)} , os quais vamos denotar por D i j {\displaystyle D_{ij}} , sendo i {\displaystyle i} a linha e j {\displaystyle j} a coluna eliminadas da matriz M {\displaystyle M} . Vamos usar o símbolo D i j k l {\displaystyle D_{ij}^{kl}} para representar o menor que se obtém pela supressão das linhas i {\displaystyle i} e k {\displaystyle k} e das colunas j {\displaystyle j} e l {\displaystyle l} da matriz M {\displaystyle M} . Assim, D i j k l {\displaystyle D_{ij}^{kl}} é um determinante de ordem ( n 2 ) {\displaystyle (n-2)} .

Fixamos a coluna k {\displaystyle k} da matriz M ( 1 < k n ) {\displaystyle M(1<k\leq n)} e determinamos

C := a 1 k C 1 , k + a 2 k C 2 , k + a 3 k C 3 , k + . . . + a n k C n , k = a 1 k ( 1 ) 1 + k D 1 k + a 2 k ( 1 ) 2 + k D 2 k + a 3 k ( 1 ) 3 + k D 3 k + . . . + a n k ( 1 ) n + k D n k . {\displaystyle C:=a_{1k}\,C_{1,k}+a_{2k}\,C_{2,k}+a_{3k}\,C_{3,k}+...+a_{nk}\,C_{n,k}=a_{1k}(-1)^{1+k}\,D_{1k}+a_{2k}\,(-1)^{2+k}\,D_{2k}+a_{3k}\,(-1)^{3+k}\,D_{3k}+...+a_{nk}\,(-1)^{n+k}\,D_{nk}.}

Desenvolvendo os determinantes D 1 k , D 2 k , . . . , D n k {\displaystyle D_{1k},D_{2k},...,D_{nk}} pela 1ª coluna, temos:

C = a 1 k ( 1 ) 1 + k ( i > 1 a i 1 ( 1 ) i D 1 k i 1 ) + a 2 k ( 1 ) 2 + k ( a 11 D 2 k 11 + i > 2 a i 1 ( 1 ) i D 2 k i 1 ) + a 3 k ( 1 ) 3 + k ( a 11 D 3 k 11 a 21 D 3 k 2 i + i > 3 a i 1 ( 1 ) i D 3 k i 1 ) + . . . + a n k ( 1 ) n + k ( a 11 D n k 11 a 21 D n k 21 + a 31 D n k 31 . . . ± a n 1 , 1 D n k n 1 , 1 ) . {\displaystyle C=a_{1k}(-1)^{1+k}(\sum _{i>1}^{}a_{i1}(-1)^{i}\,D_{1k}^{i1})+a_{2k}(-1)^{2+k}(a_{11}\,D_{2k}^{11}+\sum _{i>2}^{}a_{i1}(-1)^{i}\,D_{2k}^{i1})+a_{3k}(-1)^{3+k}(a_{11}\,D_{3k}^{11}-a_{21}\,D_{3k}^{2i}+\sum _{i>3}^{}a_{i1}(-1)^{i}\,D_{3k}^{i1})+...+a_{nk}(-1)^{n+k}(a_{11}\,D_{nk}^{11}-a_{21}\,D_{nk}^{21}+a_{31}\,D_{nk}^{31}-...\pm a_{n-1^{,}1}\,D_{nk}^{n-1,1}).}

Na expressão de C {\displaystyle C} , acima, tomamos as parcelas que contém a 11 {\displaystyle a_{11}} :

a 11 ( a 2 k ( 1 ) 2 + k D 2 k 11 + a 3 k ( 1 ) 3 + k D 3 k 11 + . . . + a n k ( 1 ) n + k D n k 11 ) = a 11 ( a 2 k ( 1 ) k D 2 k 11 a 3 k ( 1 ) k + 1 D 3 k 11 . . . a n k ( 1 ) n + k 2 D n k 11 ) = a 11 D 11 , {\displaystyle a_{11}(a_{2k}(-1)^{2+k}\,D_{2k}^{11}+a_{3k}(-1)^{3+k}\,D_{3k}^{11}+...+a_{nk}(-1)^{n+k}\,D_{nk}^{11})=a_{11}(a_{2k}(-1)^{k}\,D_{2k}^{11}-a_{3k}(-1)^{k+1}\,D_{3k}^{11}-...-a_{nk}(-1)^{n+k-2}\,D_{nk}^{11})=a_{11}\,D_{11},}

as parcelas que contém a 21 {\displaystyle a_{21}} :

a 21 ( a 1 k ( 1 ) 1 + k D 1 k 21 a 3 k ( 1 ) 3 + k D 3 k 21 . . . a n k ( 1 ) n + k D n k 21 ) = a 21 ( a 1 k ( 1 ) k D 1 k 21 a 3 k ( 1 ) 1 + k D 3 k 21 . . . a n k ( 1 ) n + k 2 D n k 21 ) = a 21 D 21 , {\displaystyle a_{21}(a_{1k}(-1)^{1+k}\,D_{1k}^{21}-a_{3k}(-1)^{3+k}\,D_{3k}^{21}-...-a_{nk}(-1)^{n+k}\,D_{nk}^{21})=a_{21}(-a_{1k}(-1)^{k}\,D_{1k}^{21}-a_{3k}(-1)^{1+k}\,D_{3k}^{21}-...-a_{nk}(-1)^{n+k-2}\,D_{nk}^{21})=-a_{21}\,D_{21},}

as parcelas que contém a 31 {\displaystyle a_{31}} : a 31 ( a 1 k ( 1 ) 1 + k D 1 k 31 a 2 k ( 1 ) 2 + k D 2 k 31 + a 4 k ( 1 ) 4 + k D 4 k 31 + . . . + a n k ( 1 ) n + k D n k 31 ) = a 31 ( a 1 k ( 1 ) k D 1 k 31 + a 2 k ( 1 ) 1 + k D 2 k 31 + a 4 k ( 1 ) k + 2 D 4 k 31 + . . . + a n k ( 1 ) n + k 2 D n k 31 ) = a 31 D 31 , {\displaystyle a_{31}(-a_{1k}(-1)^{1+k}\,D_{1k}^{31}-a_{2k}(-1)^{2+k}\,D_{2k}^{31}+a_{4k}(-1)^{4+k}\,D_{4k}^{31}+...+a_{nk}(-1)^{n+k}\,D_{nk}^{31})=a_{31}(a_{1k}(-1)^{k}\,D_{1k}^{31}+a_{2k}(-1)^{1+k}\,D_{2k}^{31}+a_{4k}(-1)^{k+2}\,D_{4k}^{31}+...+a_{nk}(-1)^{n+k-2}\,D_{nk}^{31})=a_{31}\,D_{31},} simplificadas com o uso da hipótese de indução. Prosseguimos da mesma forma até obtermos as parcelas que contêm a n 1 {\displaystyle a_{n1}} , de modo que:

C = a 11 D 11 a 21 D 21 + a 31 D 31 . . . ± a n 1 D n 1 = a 11 C 1 , 1 + a 21 C 2 , 1 + a 31 C 3 , 1 + . . . + a n 1 C n , 1 . {\displaystyle C=a_{11}D_{11}-a_{21}D_{21}+a_{31}D_{31}-...\pm a_{n1}D_{n1}=a_{11}C_{1,1}+a_{21}C_{2,1}+a_{31}C_{3,1}+...+a_{n1}C_{n,1}.}

Isso prova que C = det M {\displaystyle C=\det M} , isto é, o resultado vale para qualquer coluna k {\displaystyle k} , 1 < k n {\displaystyle 1<k\leq n} . Com raciocínio análogo podemos provar que a propriedade é válida para qualquer linha i ( 1 < i n ) {\displaystyle i(1<i\leq n)} e com raciocínios semelhantes podemos provar que ela é válida para a 1ª linha e para a 1ª coluna, concluindo que o teorema é válido para matrizes de ordem n 2 {\displaystyle n\geq 2} .

Complexidade assintótica

O teorema de Laplace não é computacionalmente eficiente para calcular determinantes. Sua complexidade no tempo é de O ( n ! ) {\displaystyle O(n!)} , não sendo indicado para situações práticas.[4][5]

Utilizando a triangularização de matrizes, é possível escrever um algoritmo capaz de calcular determinantes em tempo O ( n 3 ) {\displaystyle O(n^{3})} ,[6] que é mais eficiente. O algoritmo é similar ao método de Eliminação de Gauss.

Referências

  1. Gabriel Alessandro de Oliveira. «Teorema de Laplace». R7. Brasil Escola. Consultado em 1 de junho de 2013 
  2. «Adjunta de uma matriz e suas propriedades». 17 de novembro de 2006. Consultado em 11 de março de 2020 
  3. IEZZI, Gelson (1977). Fundamentos de matemática elementar, 4: sequências, progressões, determinantes e sistemas lineares. São Paulo: Atual. ISBN 9788535717488 
  4. Felipe, Henrique (19 de agosto de 2017). «Complexidade Algorítmica do Teorema de Laplace no Cálculo de Determinantes». Blog Cyberini. Consultado em 9 de abril de 2018 
  5. Felipe, Henrique (18 de novembro de 2013). «Teorema de Laplace em Java». Blog Cyberini. Consultado em 9 de abril de 2018 
  6. Felipe, Henrique (8 de outubro de 2017). «Cálculo de Determinantes via Triangularização». Blog Cyberini. Consultado em 10 de abril de 2018 

Bibliografia

  • «Teorema de Laplace» 
  • «Laplace expansion» 
  • Teorema de Laplace em C